O Caso do Estúdio Ghibli
Outro dia ja não lembro o motivo fui até o instituto Tomie Ohtake aqui em São Paulo, um lugar que sempre me deixou intrigado, pela arquitetura... pitoresca e muito, mas muito interessante. Entrei na livraria bem despretensiosamente e encontrei um exemplar de "O Abuso da Beleza" escrito pelo professor Arthur C. Danto, da Universidade Colúmbia nos EUA. A escrita além de deliciosa, tem uma uma característica de ficção, como se fosse realmente um roteiro imaginado... O que passa no texto é uma visão filosófica da experiência que o professor teve durante os anos 1960, no surgimento da POP Arte. Até aqui meu coraçãozinho ja acelerou de curiosidade para saber quais seriam os comentários de alguém que viveu aquele surto. Com o perdão da palavra!
Eis que me deparo com essa descrição mais que detalhada do impacto que foi a "Brillo box" do Warhol... O absurdo urinol "A Fonte" do Duchamp. Preciso dizer que desde a adolescência a Arte Popular me fascina, o POP pra mim é a maior expressão de arte que existe pelo simples fato de ser uma tradução do seu tempo, ao vivo, sem parar. Eu não acredito em conceitos de "atemporaneidade" por exemplo. Sejamos honestos, tudo pertence a um respectivo momento da história.
Dito isso, estou em março de 2025, quando a inteligência artificial está em plena evolução e existe uma avalanche de investimentos bilionários, estamos sendo bombardeados por IAs de todos os tipos, em todos os seguimentos imagináveis. Eis que a OpenAI uma empresa norte-americana, durante o segundo governo Trump lança uma atualização do chatGPT para produção de imagens com estética idêntica a diferentes estúdios de animação onde você pode transformar sua foto em linguagens familiares para o grande público. POP Arte basicamente.
Disney, Pixar, Anime, CGI, Digital e Manual.. E especialmente uma delas viralizou nas redes sociais (ora ora porque será?) E em pouquíssimo tempo muita, mas muita gente tinha suas fotinhas em linguagem anime com uma qualidade realmente excepcional floodando os feeds de pelo menos 3 redes sociais diferentes. Como não poderia ser diferente, críticas e elogios também foram surgindo até que chego no ponto em comum da minha experiência vivendo esse momento, e do Professor Arthur se deparando com um mictório exposto em uma galeria de arte como o último grito da moda.
O paralelo que eu gostaria de trazer aqui é: Warhol não foi o designer criador das latas de sopa Campbell. Duchamp não foi o ceramista criador do mictório que entrou pra história da arte. Assim como quem usa as linguagens esteticas de animação roubadas pelo chatGPT também não tem direito autoral sobre o que foi criado por um robô que nada mais é do que um grande ladrão de informações online.
E em 2025, o que é que consegue se manter Offline?
Banksy escreveu na pedra: “um artista ruim imita, um grande artista rouba!” (um roubo de Pablo Picasso! hahaha!!)
Longe de mim querer a prepotência de definir o que é arte ou não. Pra mim arte é liberdade apenas. Não existe o certo ou o errado, o que existe é o que você faz com a ferramenta que você tem.
Em uma pesquisa rapida, a Gemini, IA do google, me deu mais de 50 referências do impacto da invenção da fotografia quando a pintura retratista era a única forma de representar a realidade estática. Podemos imaginar o caos entre os pintores da época e boicotes ao que seria aquela aberração de imagem clonada! Não muito tempo depois, quantos estudios de revelação de filmes tiveram as portas fechadas pelas lentes digitais que prometiam opções quase que infinitas de fotografias em sequência? Me deparei com a informação de que a fotografia só começou a ser considerada uma forma de arte em 1980!
E os exemplos são inúmeros…
Então, me faço o questionamento: Eu deveria colocar a Arte em um quadrado irrevogável de inerente irrelevância? O que significa vanguarda nessa época histórica em que estou vivendo?
As questões que vem a cabeça são muitas! E mesmo não sendo artista e talvez por isso mesmo me sinto menos ofendido. Não consigo não olhar pra essa realidade com bons olhos, estou literalmente vivendo um momento de revolução assim como o Professor Arthur se deparando com aquele mictório em um pódio na década de 1960.
E pra mim, a arte nunca mais será a mesma coisa!
Ps1.: Charles Darwin ja provou que o universo não retrocede, quem se mantem inerte assina sua sentença.
Ps2.: Lao Tzu, mais de 3mil anos atrás também disse: Sejamos como a água, que é flexível, fluída, e com o tempo, lapída até a mais rígida das rochas.
:)
Banksy um dos maiores artistas urbanos do meu tempo, ele mesmo, o cara que picotou uma tela vendida em leilão e depois disso ela triplicou de valor…
A Foto é minha, de uma visita ao museu MOCO em Londres 2024.